Monthly Archives: Fevereiro 2013

The Special One

Lev Yashine

Lev Yashine

O que é um herói, enquanto personagem ficcional? Em certos tempos literários (o do romantismo, por exemplo), o herói impõe-se como entidade central no desenvolvimento de uma narrativa que gira em torno dele, em função de temas, de valores e de atitudes (a ânsia do absoluto, o idealismo radical, a ironia anti-burguesa, o dandismo, etc.) que o estruturam como eixo semântico do texto. Noutros tempos, falamos de anti-herói, por força de um processo de inversão  que destrói a pureza do herói: por isso, do Lazarillo de Tormes dizemos que é sobretudo um anti-herói.

Como se manifesta o herói desportivo? Que forças e que fracassos fazem dele um anti-herói? Em ambos os casos, é determinante a instância de discursos mediáticos predominantemente narrativos, que reinventam a condição do herói (ou relatam a sua destruição), tanto em modalidades coletivas (futebol, basquetebol, rugby, etc.), como em modalidades de feição marcadamente individual (ténis, atletismo, natação, etc.). 

Mas o  herói desportivo  perdeu a inocência: profissionalismo exigente, marketing, publicidade, interesses económicos e também, como é óbvio, os discursos mediáticos que modelam tudo isto  contribuem para que a autenticidade primordial do herói (que era a dos primeiros atletas olímpicos) se degrade. As narrativas do chamado jornalismo desportivo, mediatizadas pela imprensa escrita, pela rádio e pela televisão, trabalham no sentido de configurar atletas como personagens de ficção, contribuindo para destacar heróis que imitam o super-homem nietzschiano. Chamaram-se ou

Usain Bolt

Usain Bolt

chamam-se esses heróis Lev Yashine, Emil Zatopek, Di Stéfano, Pelé, Eusébio, Michael Phelps ou Usain Bolt. Em contraste com eles, o anti-herói é aquele que derroga a idolatrada grandeza do autêntico herói, por subverter normas de comportamento desportivo, por fracassar no momento decisivo ou por agir com a singeleza do homem banal: Lance Armstrong, Barbosa, guarda-redes do Brasil derrotado perante o Uruguai (na copa de 50), Andres Iniesta driblando com  uma simplicidade quase artesanal, sem esgares para as câmaras nem penteados   lustrosos.

(C. Reis)

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