Sobrevida dos personagens da literatura é tema da aula inaugural de Letras

O que acontece com os personagens da literatura depois que os livros se fecham? Este foi o tema da aula inaugural do curso de Letras e do Programa de Pós-graduação em Letras da PUC Goiás nesta quarta-feira, 13 de março, no Auditório da Escola de Formação de Professores e Humanidades. O professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras de Coimbra, Carlos Reis, ministrou palestra com o tema Estranhas formas de vida: modos de sobrevida, para os estudantes calouros e veteranos da instituição, docentes e pesquisadores da área.

[Continuar a ler em https://www.pucgoias.edu.br/noticias/sobrevida-dos-personagens-da-literatura-e-tema-da-aula-inaugural-de-letras/?fbclid=IwAR1x6b6WEGUpBwaFyb2orvwodxJZnE_1ROh0oj4DhE-zjE_iJjpjVbIP7yo]

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Figuras da Ficção na PUC Goiás

O grupo de pesquisa Estudos da Personagem, com vinculação ao CNPq, é  coordenado por Elizete Ferreira, professora da Escola de Formação de Professores e Humanidades da Pontifícia Universidade Católica de Goiás e tem desenvolvido, desde 2022, colaboração com o projeto de investigação Figuras da Ficção (coordenação: Carlos Reis), integrado no Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra. A atividade do grupo Estudos da Personagem situa-se no campo dos Estudos Narrativos, com incidência na investigação  dos processos de composição, de trânsito e de sobrevida da personagem ficcional, em contextos  literários e não literários (no romance, no conto, na crónica, no cinema, na televisão, na publicidade, etc.).

O aprofundamento da colaboração com o projeto Figuras da Ficção permitiu identificar um conjunto de investigadores que colaborarão no Dicionário de Personagens da Ficção Portuguesa (DPFP). Nesse contexto, terão lugar, na semana de 11 de março, diversas atividades com a presença do coordenador do projeto Figuras da Ficção, na PUC Goiás, designadamente:

  • No dia 13 de março, pelas 19 horas, uma conferência por Carlos Reis, na Aula Magna do Curso de Letras da PUC Goiás,  com o título “Estranhas formas de vida: a personagem e as suas sobrevidas”.
  • No dia 14 de março, pelas 15 horas, um workshop sobre “A personagem como léxico: dicionários, figurações e sobrevidas”, com a participação dos membros do grupo Estudos da Personagem e incluindo os colaboradores do DPFP (atividade aberta a professores e a alunos da pós-graduação).
  • No dia 15 de março, pelas 15 horas, uma reunião de trabalho restrita aos colaboradores do DPFP.

Aproveitando a deslocação a Goiás, o coordenador do projeto Figuras da Ficção estará, no dia 18 de março, na Universidade Estadual de Goiás/Cora Coralina, na cidade de Goiás, onde, pelas 19 horas, fará a palestra “Figuração, refiguração e sobrevida da personagem”.

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Diálogo com Raphaël Baroni

Cet entretien porte sur l’œuvre de Carlos Reis et sur sa contribution à la théorie du récit. Nous y aborderons notamment l’ouvrage qu’il a récemment dirigé avec Sara Grünhagen, Characters and Figures. Conceptual and Critical Approaches (Coimbra, Almedina, 2021) ainsi de son Dicionário de narratologia (Coimbra, Almedina 2011, avec Ana Cristina M. Lopes). Carlos Reis est professeur de littérature portugaise et de théorie littéraire à l’université de Coimbra, où il a obtenu son diplôme et son doctorat. Il a été directeur de la Bibliothèque nationale (1998-2002) et recteur de l’Université Aberta (2006-2011). Il a été professeur invité dans des universités brésiliennes, nord-américaines et espagnoles. Il est coordinateur de l’édition critique des œuvres d’Eça de Queirós (Imprensa Nacional-Casa da Moeda ; 21 volumes déjà parus) et de l’Histoire critique de la littérature portugaise (Verbo ; 9 volumes). Il est également le créateur du projet Figuras da ficção (figures de la fiction). L’objectif principal de ce projet est d’étudier le personnage de fiction en tant que catégorie du discours littéraire et des récits de fiction. Cette étude se construit en tenant compte de plusieurs critères d’approche et de paramètres d’existence du personnage de fiction. De manière dérivée, le projet envisage aussi les relations translittéraires, en tenant compte de l’existence du personnage dans d’autres discours, à savoir les discours non littéraires. A terme, le projet Figuras da Ficção vise à l’élaboration d’un dictionnaire des personnages de la fiction portugaise.

[Continuar a ler em https://vox-poetica.com/entretiens/intReis2024.html ]

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A Morte segundo Saramago

Na narrativa saramaguiana, a morte é apresentada como uma figura alegórica e omnipresente, cujo perfil físico, psicológico e social é traçado através de uma caracterização mista. O ponto de partida da ação é a greve das funções usuais da morte, num país incógnito, ao oferecer “o maior sonho da humanidade desde o princípio dos tempos: o gozo feliz de uma vida eterna cá na terra” (J. Saramago, As Intermitências da Morte. Porto: Porto Ed., 2014, p. 15), com abandono da reconhecida “dureza do coração” (156) e deixando os comuns mortais “sem o medo quotidiano da rangente tesoura da parca” (23), ao usufruir do “elixir da imortalidade” (84).

No entanto, perante o impacte nefasto e destrutivo da sua cessação de atividades, começa a reconhecer-se que a intervenção da morte era absolutamente necessária, chegando mesmo a desejar-se o seu regresso. O desespero avassalador e o sofrimento atroz, intolerável e destruidor de dignidade promovem ações exasperadas das famílias que reconhecem que “antes a morte que tal sorte” (37), pelo que procuram, passando a fronteira, um fim, uma espécie de eutanásia, na procura de uma peculiar ars moriendi, pois “a vida destes infelizes já não era vida” (46). Estes gestos humanitários, sem objetivos perversos, porque “não é o mesmo levar à morte e matar, pelo menos neste caso” (45), assumiram conotações ominosas, com contornos monstruosos, tornando-se alvos de julgamentos e condenações pela hipocrisia social, o que favoreceu a criação da “máphia” (54), uma organização secreta e não governamental que prestava serviços pouco lícitos relativos ao transporte de mortos-vivos.

Passados alguns meses, os resultados da experiência eram lastimáveis. O país encontrava-se convulso e as estruturas socioeconómicas e políticas eram abaladas por esta inédita situação, “o poder [estava] confuso”, “a autoridade diluída”, “os valores em acelerado processo de inversão” e sentia-se a “perda do respeito cívico” (76). Por esse motivo, a morte decide, com frontalidade, reassumir uma postura ativa e voltar a “embainhar a emblemática gadanha” (110), alterando apenas o modus operandi transato, dadas as críticas mordazes e acutilantes que lhe são dirigidas por “tirar a vida às pessoas à falsa-fé” (111). (…)

“A Morte”, por Manuel João Vieira

Graças à sua dimensão filosófica e à sua carga emotiva, o romance As Intermitências da Morte foi objeto de uma significativa fortuna crítica e de várias transposições intermediáticas. Por exemplo, na série “Mulheres Saramaguianas” (Centro Português de Serigrafia), que esteve presente no Festival Internacional de Gravura e Arte sobre Papel de Bilbau (“A Morte”, por Manuel João Vieira; texto de Djaimilia Pereira de Almeida; 2022). Registe-se também a adaptação para teatro pela Cooperativa Bonifrates de Coimbra, com a encenação de João Maria André (2022).

Patrice Pacheco

[Texto integral em Dicionário de Personagens da Ficção Portuguesa .]

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Benito Prada, segundo Assis Pacheco

Nascido na Galiza, na aldeia de Casdemundo, sita na província de Ourense, Benito Prada Dorribo é o protagonista do romance Trabalhos e Paixões de Benito Prada (Porto: Edições Asa, 1993.), a que no frontispício se acrescenta galego da província de Ourense que veio a Portugal ganhar a vida. Era o mais velho dos quatro filhos do casal constituído por Filemón Prada, que passava grandes temporadas no norte de Portugal exercendo o ofício de amolador (afiador no romance), até que numa das viagens adoeceu gravemente, perdendo para sempre o uso das pernas, e Nicolosa Dorribo, a única rapariga da família dos Padeiros de Casdemundo. O início do romance é extremamente violento, pois abre com a referência à morte de Manolo Cabra, namorado de Nicolasa, que os irmãos desta assassinam e assam no forno, quando descobrem que este desflorara a irmã. Esta, julgando-se traída e abandonada por Manolo, pois o crime nunca foi descoberto, aceita casar-se, sem paixão, com o amolador.

Confluem no livro de Assis Pacheco tradições literárias realistas de épocas distintas como a da picaresca espanhola do Século de Ouro e a do romance americano e europeu de meados do século XX, de estrutura argumental complexa e de mudanças bruscas do tempo narrativo, que é objeto de uma caprichosa manipulação pelo narrador, com avanços e retrocessos temporais que dificultam o apuramento da sucessividade factual. Para além disso, também não abundam no romance as referências a datas concretas, obrigando o leitor a construir a linha cronológica da ação a partir de acontecimentos históricos que funcionam como realia da narrativa. É desta forma que nos aparece a primeira referência cronológica indireta. Ficamos assim a saber que em 1899, “um ano contado sobre o desastre de Cuba” (17), já Benito Prada tinha nascido, porque Filemón se despede da mulher e dos filhos para se deslocar uma vez mais a Portugal.

Em 1908, ou seja, o “ano em que mataram o rei de Portugal” (59) já o próprio Benito Prada tinha residência em Portugal, onde alugara um quarto na zona de Aveiro (São Bernardo) a um compatriota, conhecido como o Grego, e vendia tecidos em feiras e mercados da região. Na sequência da morte do Grego, agravada pela incompatibilidade com o filho deste, Benito toma a resolução de instalar-se em Coimbra, em pleno consulado político de Sidónio Pais, onde começará por abrir uma pequena loja de tecidos nas escadas de São Tiago, até chegar a ser um dos mais prósperos comerciantes da cidade. A última referência a Benito e à sua família tem uma das raras datas concretas do romance, 1949, coincidindo com o ano do doutoramento honoris causa concedido ao ditador espanhol Francisco Franco pela Universidade de Coimbra. No romance, o generalíssimo é alvo de uma fracassada tentativa de atentado à saída da Mealhada, sem relação com a intriga principal. (…)

António Apolinário Lourenço

(Extrato de “Benito Prada”, Dicionário de Personagens da Ficção Portuguesa. Texto integral em http://dp.uc.pt/conteudos/entradas-do-dicionario/item/1155-benito-prada

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Colóquio Figuras da Ficção 6

De acordo com o que estava programado, decorreu de 19 a 21 de junho passado o Colóquio Internacional Figuras da Ficção 6, organizado pelo Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra, no âmbito do projeto de investigação Figuras da Ficção. Foram três dias de intensa atividade, reunindo mais de seis dezenas de participantes, com intervenções em quatro conferências, duas mesas plenárias e meia centena de comunicações.

Para além da convivialidade própria de uma reunião científica presencial, o colóquio permitiu atualizar conhecimentos em torno do tema “Sobrevidas da Personagem”. E também recolher propostas e análises que direta ou indiretamente hão de projetar-se no desenvolvimento do Dicionário de Personagens da Ficção Portuguesa.

As intervenções a que o colóquio deu lugar serão publicadas em formato e momento a comunicar aos participantes.

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Colóquio Figuras da Ficção 6

Organizado pelo Centro de Literatura Portuguesa da Faculdade de Letras de Coimbra, de 19 a 21 de junho de 2023.

Informações em https://www.uc.pt/fluc/clp/article?key=a-ff5d3d936f

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Personagem: lugar de onde se fala

Eliane Fittipaldi Pereira, Trajetórias do Feminino em Narrativas de Clarice Lispector, Simone de Beauvoir e Agnès Varda. São Paulo: Hucitec, 2021, pp. 24-26.

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Ética e estética do retrato oitocentista

“Fotografias instantâneas da felicidade”: ética e estética do retrato oitocentista

Em “Fotografias instantâneas da felicidade” (Machado de Assis), analisa-se a problemática do retrato num contexto mediático e sociocultural definido: o que enquadra e rege a representação literária de personagens, determinada por uma estética (a realista) e pela função que lhe era atribuída. Nesse contexto, o retrato literário e a sua formalização são indissociáveis de atitudes epistemológicas, de instrumentos e de técnicas (designadamente, a fotografia) que se projetam, explicitamente ou em filigrana, sobre a referida formalização. Além disso, a estética e a técnica do relato realista associam-se diretamente ao apogeu de um género literário (o romance) e à relevância nele assumida pela figuração de personagens.

Quinta-feira, 6 de julho, às 17 horas.

Link da reunião Zoom:  https://videoconf-colibri.zoom.us/j/87922457956?pwd=N1E0WVpxem1OOFVuSUJDSHFsaUlNdz09

ID da reunião: 879 2245 7956 
Senha de acesso: 855981

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Gallagher: alegoria da exploração

Eustace H. Gallagher, ou Capitão Gallagher, é uma personagem do romance O Hóspede de Job (1963), de José Cardoso Pires. Militar norte-americano em visita à Vila de Cercal Novo, no Alentejo, representa a ameaça estrangeira em um país marcado pela miséria. É ele o hóspede a que se refere o título em “uma contradição irónica nos termos por que se define: Job, figura extrema da pobreza, recebendo e sustentando um hóspede rico (o capitão Gallagher)” (Alexandre Pinheiro Torres apud J. Cardoso Pires, O Hóspede de Job. Lisboa: Moraes Editores, 1964: 177).

O capitão vem a Portugal para apresentar um novo material de guerra aos militares portugueses, cuja demonstração de uso terá um resultado trágico: um projétil atinge o cavador João Portela que, devido à gravidade do ferimento, tem uma perna amputada. Contudo, apesar de ser o responsável por este infortúnio, o estrangeiro não tem sua vida abalada pelo mal que causou, cabendo aos locais (militares ou civis) ajudarem o jovem aleijado: “Especialista de armamento e de guerras, traz consigo a arrogância e a luta. E, ao abandonar a terra de Job, levará como presente a dor dos camponeses” (Liberto Cruz, José Cardoso Pires. Lisboa: Arcádia, 1972: 35).

A personagem é construída explicitamente em oposição a João Portela – “Gallagher escrevia seu relatório sem os ouvir. (…) A páginas tantas, bebeu uma golada de whisky e veio à janela tomar alento. Lá em baixo, num muro de cicatrizes, Job contemplava, com os olhos mudos, o cair da tarde (…)” (Pires, 1972: 164) –, mas não só. Sendo Portela entendido como uma personagem típica, a dinâmica de contrastes estende-se à categoria que Portela representa e que é evocada também por outras personagens, por exemplo: “Gallagher lembra-se da garota de cabelos de estopa que, num café de Cercal Novo, lhe entregara por oitenta e cinco cêntimos uma espoleta [de granada], um temível pedaço de morte capaz de destruir um Paton ou um ninho de adversários. / «Bravo soldadito, nice kid…»” (174-175). (…)

O Capitão Gallagher, portanto, alegoriza a exploração, ciente da sua posição de privilégio e de poder, para quem Portugal é um possível entretenimento: “«Este pequeno país», escrevera ele à mulher, em Kalamazoo, Michigan, «é uma verdadeira praia a todo o comprimento (…). Já imaginaste o que seriam umas férias aqui com os pequenos? A vida é barata e tranquila, e os portugueses, embora tristes, são acolhedores.»” (171). A personagem expõe, assim, as assimetrias nas relações de poder, temática constante da escrita cardoseana.

Gabriella Campos Mendes, “Capitão Gallagher”, in Dicionário de Personagens da Ficção Portuguesa.

Texto integral aqui.

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